domingo, 8 de março de 2015

Cleide Alves




Cleide Alves da Silva, nascida em 5 de dezembro de 1947 na cidade de Recife - PE, mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua carreira artística.

Começou a cantar por volta dos 7 anos de idade no programa Clube do Guri (Rádio Tupi - RJ). Curiosamente nesse mesmo famoso programa de calouros infantis, que iniciou no Rádio e a partir de 1955 passou a ser transmitido pela TV Tupi do Rio, iniciaram carreira também as cantoras Wanderléa e Rosemary, que juntas a Cleide iriam figurar futuramente entre as mais populares cantoras da música jovem brasileira.

A primeira gravação surgiu em 1960, quando lançou pela gravadora Copacabana um 78 rotações contendo as músicas "Help, help mammy" (autoria de Fernando Costa, Alfredo Max e A. Chamarelli) e "Seguindo e cantando" (autoria do "Golden Boy" Roberto Corrêa). Nesse primeiro disco foi acompanhada pelo pioneiro grupo de rock nacional Betinho e Seu Conjunto, além dos Golden Boys nos vocais. O discreto sucesso de "Help, help mammy" a apresentou bem, chegando a ser incluso no primeiro LP coletânea de Rock brasileiro, intitulado "Cocktail de Rocks", que trazia também nomes como: Betinho e Seu Conjunto, Ronnie Cord, Golden Boys, Gessy Soares de Lima e até Moacyr Franco cantando rock.

Ainda no ano de sua estreia profissional, gravou outro 78 rotações ao lado do cantor Gilberto Alves, que apesar do sobrenome incomum, não tinha parentesco com a jovem cantora. Registraram dois temas natalinos: "Natal de Jesus" e "Noite de paz", que também saiu em um LP coletânea especial de Natal.

Em 1961 lançou compacto duplo intitulado "Cleide Alves com Orquestra e Côro", contendo as músicas "Vamos pra escola", versão de Oiram Santos para "School bus", "Help, help, mammy", "Sonho na colina", versão de Paulo Murillo para o sucesso do americano Fats Domino "Blueberry Hill" e "Perfeito amor", outra versão, assinada por Paulo Rogério para o original "Perfect love".

"A Estrelinha do Rock", como era chamada na época, logo ganhou notoriedade e passou a ser presença constante nos programas da colega e também roqueira Célia Vilella. Entre 1961 e 1964, Célia apresentou "Célia, Música e Juventude" (TV Continental), "Na roda do Rock" (Rádio Globo), "Festival da Juventude" (Rádio Guanabara) e "Célia Vilella na TV" (TV Rio), além de divulgar a turma da música jovem em sua coluna "Na roda do Rock", da Revista Radiolândia.

Por essa época a jornalista carioca Jeanete Adib idealizou a "Revista do Rock", edição especializada na divulgação da música jovem, que trazia novidades do mundo do rock, notícias dos astros da juventude, etc. Curioso é que se hoje folhearmos as páginas de uma dessas antigas edições, iremos ter a sensação de estarmos lendo um "Fanzine" de tão simples que eram elaboradas. Rapidamente a "Revista do Rock" ganhou o gosto dos jovens e, em 1961 promoveu um concurso para eleger Rei, Rainha, Príncipe e Princesa do Rock brasileiro. Os cantores Celly Campello e Sérgio Murilo venceram, sendo eleitos os Reis do Rock, enquanto Cleide Alves (2ª colocada entre as cantoras) foi detentora do título de Princesa, ao lado de Tony Campello, eleito o Príncipe.

Com o twist varrendo o mundo, o novo ritmo sensação entre a juventude também alcançou enorme popularidade no Brasil. A gravadora Copacabana, através do selo Som, lançou o primeiro disco do conjunto carioca Renato e Seus Blue Caps, intitulado "Twist". Nesse LP, o grupo registrou três gravações dividindo as demais faixas com Cleide Alves e o cantor Reynaldo Rayol (irmão do também cantor Agnaldo Rayol). Cleide gravou quatro músicas na coletânea: "Chega", versão de Demétrius para "Makin' love", "Meu anjo da guarda", também gravada por Wanderléa em seu disco de estreia e "Hey, brotinho" (ambas de autoria da dupla Rossini Pinto e Fernando Costa), além de "Namorando" (de Carlos Imperial).

Nessa ocasião, Celly Campello, ainda a principal estrela do cenário pop no Brasil, cantava músicas doces e românticas, mesmo aquelas mais dançantes. Nenhuma das cantoras de rock no Brasil dessa época tinha até então gravado temas esnobando os garotos, isso não era comum. Com a música "Chega", inicialmente gravada por Demétrius, o autor da versão, pela primeira vez na história do rock nacional pôde-se ouvir uma garota dando o fora no namorado. Cleide se tornou a precursora quando resolveu gritar a plenos pulmões os versos: "Vou lhe dar um fora. Espere só pra ver. Fique aproveitando e vê o que vai acontecer. Eu não quero mais você, meu amor. Pois não posso vê-lo seja onde for..."

Teve um ligeiro romance com o então iniciante cantor Roberto Carlos, que nessa época, embora já tivesse estreado em disco, ainda não tinha uma composição própria gravada por outro artista. Foi quando em 1962, novamente com o acompanhamento de Renato e Seus Blue Caps, Cleide lançou a música "Procurando um broto", primeira composição do futuro "Rei" na voz de outro artista.

Dessa proximidade com Roberto Carlos nasceu uma grande amizade. Tanto que Cleide foi a cantora que mais gravou músicas inéditas dele. Em 1964, quando Cleide transferiu-se para a gravadora RGE, Roberto chegou a produzir seu LP "Twist, Hully Gully & Cleide Alves", no qual a presenteou com 5 composições, uma delas em parceria com a jornalista Jeanete Adib e as demais com o parceiro Erasmo Carlos. Aliás nessa fase, Cleide, Roberto e Wanderléa frequentavam a casa de Jeanete Adib e desses encontros, surgiram duas composições inéditas de Roberto com Jeanete: "Cara de pau", que abriu o primeiro LP de Cleide e, "Dê o fora", lançada por Wanderléa na mesma época.

O LP de estreia pela nova gravadora tinha a fórmula do sucesso, Cleide estava em sua melhor fase, com um repertório muito bom, acompanhada novamente por Renato e Seus Blue Caps e despontou com o sucesso "Mamãe acha que é normal". Na sequência, puxado pelo sucesso dessa mesma música, foi lançado o compacto "Broto Infernal" com a inédita "Hully Gully do guarda", gravada a contra gosto de Cleide, que não a queria ter gravado e na época acabou o fazendo por imposição da gravadora.

Cleide foi responsável por levar o amigo Erasmo Carlos à gravadora RGE após sua saída do grupo Renato e Seus Blue Caps, onde definitivamente ele iniciou a carreira solo e estreou em 1964 com o compacto "Terror dos namorados".

Atuou até o início de 1965. Antes da estreia do programa "Jovem Guarda" na TV Record, já havia decidido se afastar do meio artístico pra se dedicar aos estudos, regressando apenas 3 anos depois, quando o programa já estava em fase de declínio. No melhor momento de sua carreira e exatamente quando todos os seus colegas: Roberto, Erasmo, Wanderléa, Renato e Seus Blue Caps e outros alcançaram o auge do sucesso, Cleide abandonou a carreira.

No ano de 1968 assinou contrato com a gravadora RCA Victor e lançou compacto com a música "Você não serve pra ser meu namorado" (autoria de Cláudio Fontana e Wanderley Cardoso). Com esse "hit" voltou às paradas de sucesso e, em seguida emplacou com "Nunca amei um homem igual a você" (de Cláudio Fontana), que se tornou o maior sucesso de sua trajetória.

O grande sucesso de "Nunca amei um homem igual a você" atravessou todo o ano de 1969 nas paradas. Somente na virada de 1969 pra 70, foi lançada uma música inédita para a coletânea "Disparo 70", intitulada "Devagar, quase parando" (composição de Fábio e Paulo Imperial) que também entrou para o seu LP "Canção de nós dois", providenciado pela gravadora em 1970.

Com arranjos do maestro Pachequinho, o repertório eclético do LP "Canção de nós dois" trazia desde baladas românticas a marcha-rancho, passando por soul, contry, soft-psicodélico e até salsa. Entre outras curiosidades, estão a música "Tenho minhas razões" (única parceria de Roberto Carlos com Rossini Pinto), além da salsa "Tim-tim por tim-tim" (parceria do iniciante Odair José com Rossini Pinto), a marcha-rancho "Depois da ladainha" (de Othon Russo e Niquinho), o soul "Você já teve a sua chance" (de Getúlio Côrtes), o contry "Quero somente o seu amor" (de Edil Júnior), a soft-psicodélica "O mundo que sonhei" (de Sidney Quintela) e a música que dá título ao disco "Canção de nós dois" (composta pelo poeta Vinícius de Moraes). Apesar de muito bem produzido, o LP acabou não dando uma continuidade ao sucesso dos compactos anteriores. Pouco tempo depois, Cleide novamente deixou a vida artística.

Casou-se com o irmão do apresentador José Messias. Somente foi vista novamente na mídia no ano de 1985, quando aceitou o convite de Roberto Carlos pra participar de seu programa especial de fim de ano da TV Globo, em homenagem aos 20 anos da Jovem Guarda. Nesse programa, Cleide cantou "Jovens tardes de domingo" ao lado de vários colegas dos anos dourados, como: Roberto, Erasmo, Wanderléa, Rosemary, Ed Wilson, José Ricardo, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso e outros.

Em 1995, ocasião em que se comemoravam os 30 anos da Jovem Guarda, Cleide foi convidada pelo produtor Márcio Antonucci (integrante da dupla Os Vips) pra participar de uma coletânea lançada pela PolyGram reunindo alguns nomes do movimento que ainda estavam na ativa. Para essa coletânea, Cleide regravou o sucesso de sua contemporânea Celly Campello, "Estúpido cupido". Embora muitos dos artistas que participaram dessa coletânea tenham retomado as atividades artísticas na época e, se apresentaram em shows pelo Brasil, tendo inclusive fazendo alguns programas de TV, Cleide não apareceu em momento algum nesses shows ou programas de TV.

Em 2009 consegui o contato da Cleide e ao ligar a fim de tentar uma entrevista ou um bate papo informal, consegui apenas falar com sua irmã, chamada Jane. Na breve conversa que tivemos, ela me disse que a irmã tinha recentemente passado por uma cirurgia na coluna e não estava residindo na cidade do Rio, mas sim no município de Campos dos Goytacazes (RJ). Pude entender nessa conversa que ela não estava muito bem de saúde e que não gostava de falar sobre a sua carreira artística, possivelmente por não mais ter tido oportunidades de se apresentar, fazer shows, etc.

Cheguei a ouvir pouco antes disso alguns colegas, cantores daquela época, dizerem que Cleide estava passando por sérias dificuldades financeiras, tendo que pedir ajuda para alguns amigos. Se é verdade ou não, não foi possível confirmar.

Em 05/03/2015, Cleide passou mal e foi internada em um hospital do Rio de Janeiro, infelizmente não resistiu a uma parada cardíaca e faleceu no dia seguinte.

É muito triste saber que uma artista que teve uma importância tão grande para a nossa música, acabou adoecendo por frustração de não conseguir exercer a sua profissão e morreu amargurada e triste ao invés de sentir orgulho por tanto ter contribuído para a música brasileira. Apesar disso tudo, sua obra ficará eternizada.



Discografia

78 RPM:


Help, help mammy / Seguindo e cantando - Copacabana - 1960


Natal de Jesus / Noite de paz - (Com o cantor Gilberto Alves) - Copacabana - 1960


Chega (Makin' love) / Meu anjo da guarda - Copacabana - 1962


Habib Twist / Procurando um broto - Copacabana - 1962





Compactos Simples:


Broto Infernal (Hully Gully do guarda / Mamãe acha que é normal) - RGE - 1964




A Estrelinha que volta (Você não serve pra ser meu namorado / Não me diga adeus agora) - RCA Victor - 1968




Nunca amei um homem igual a você / Meus dois namorados - RCA Victor - 1968




Quero somente o seu amor / Depois da ladainha - RCA Victor - 1970



Compacto Duplo:


Cleide Alves com Orquestra e Côro (Vamos pra escola 'School bus' / Help, help mammy / Sonho na colina 'Blueberry Hill' / Perfeito amor 'Perfect love') - Copacabana - 1961




LP's:


Twist, Hully Gully & Cleide Alves - RGE - 1964




Canção de nós dois - RCA Victor - 1970




LP's Coletânea:


Cocktail de Rocks (Help, help mammy) - Copacabana - 1960




Natal, a Festa Azul (Noite de paz - com o cantor Gilberto Alves) - Copacabana - 1960




Twist (Chega "Makin' love" / Meu anjo da guarda / Hey, brotinho / Namorando) - SOM - 1961




Disparo 70 (Devagar, quase parando) - RCA Victor - 1969




Saudade Jovem Nacional Vol. 2 - 20 Sucessos daquele tempo (Nunca amei um homem igual a você) - RCA Camden - 1976




CD's Coletânea:


Box - 30 Anos de Jovem Guarda / CD 2 (Estúpido cupido "Stupid cupid") - Polygram - 1995




40 Anos de Música - 1964 (Mamãe acha que é normal) - RGE - 1997




Festa de arromba - A música jovem dos anos 60 (Mamãe acha que é normal / Cara de pau) - RGE - 1997




O Baú do Rei (Cara de pau / Surpresa de domingo / Mamãe acha que é normal / Beijo quente / Brotinho transviado) - RGE - 1997




Série Dois em Um - Dois LP's em um CD - Renato e Seus Blue Caps: Twist / Renato e Seus Blue Caps (Chega "Makin' love' / Meu anjo da guarda / Hey, brotinho / Namorando) - EMI Odeon - 1999




Na Onda do Iê Iê Iê Vol. 2 - Série Bis Jovem Guarda (CD 1: Procurando um broto / CD 2: Help, help mammy) - EMI Odeon - 2000






Álbum de Recordações



Início de carreira - 1960


Com o cantor americano Neil Sedaka, quando ele esteve no Brasil, no início dos anos 60


Ainda menina em uma confraternização. Na foto é possível identificar seu futuro cunhado, o disc-jóquei José Messias, à esquerda (de chapéu branco).


Pose de Princesa do Rock - 1961


Eleita Princesa do Rock, em Concurso promovido pela Revista do Rock em 1961. Cleide ao centro ao lado de Sérgio Murilo, Tony Campello, Celly Campello, Demétrius e outros.


Com o cantor Ronnie Cord - 1961


Ao lado do ainda anônimo Roberto Carlos e George Freedman - 1961






Com Renato e Seus Blue Caps e Reynaldo Rayol, lançamento do LP "Twist".


Matéria de Revista: Cleide com Célia Vilella, Sérgio Murilo, Reynaldo Rayol, Marlene Vilella e outros.








Com José Messias, Prini Lórez, Orlando Dias, Roberto Rei, Evinha, José Ricardo, Selmita, Tony Campello, Rosemary, Sérgio Murilo e Wanderléa


Com a amiga Wanderléa


Com Rosemary


Capa da Revista do Rádio


Com Ed Wilson






Se apresentando no Programa do Chacrinha


Quando retomou a carreira, em 1968
















Com o cantor Nilton César


Com Wanderley Cardoso - Capa da Revista do Rádio


Com Wanderley Cardoso e Kátia Cilene






Com as cantoras Marlene Cavalcanti, Dircelene, Silvinha, Adriana e Elizabeth


Homenagem da gravadora RCA Victor ao cantor Vicente Celestino, em 1969. Cleide aparece no canto à esquerda, ao lado de Yara e Vera do grupo (Os Caçulas).









Em sua última aparição na TV, no Especial Roberto Carlos de 1985.