sábado, 13 de dezembro de 2014

Os Caçulas



 
Yara Pereira Mattos, Gilberto Mingrone, Vera Lúcia de Carvalho e Álvaro Damasceno, o destino foi responsável por unir esses quatro jovens paulistanos, quando eram pré-adolescentes. Começaram a cantar individualmente no Programa infantil "Clube do Papai Noel", na Rádio Tupi de SP. Foi lá que, dentre tantos outros cantores participantes da mesma atração radiofônica, foram escolhidos pelo maestro Francisco Dorse para cantarem uma seleção de canções em homenagem à Bahia. O sucesso foi imediato e, tão logo nasceu o grupo, inicialmente batizado de Os Caçulas da Bossa, já que cantavam um repertório mais voltado à MPB. Nas primeiras apresentações, havia mais duas integrantes: Dalva e Maria Malvina, que pouco depois saíram, firmando-se assim o quarteto que mais tarde seria sucesso em todo o Brasil. A primeira apresentação dessa formação original do grupo ocorreu em 26/01/1963, no programa "A Grande Parada Antártica", na TV Tupi (Canal 4).

Rapidamente alcançaram popularidade, surgindo assim a oportunidade de se apresentarem em programas de TV. Presença constante no programa de Júlio Rosemberg, na TV Tupi de SP, receberam o convite pra ingressarem no disco em 1967. O contrato com a gravadora RCA Victor foi assinado no próprio programa de Júlio Rosemberg. 

O movimento Jovem Guarda estava no auge e, por aqui fazia grande sucesso o grupo vocal americano The Mamas & The Papas, responsável por hits como: “California dreamin” e “Monday, Monday”. O produtor Ramalho Neto, da RCA, teve a ideia de lançar o quarteto como uma resposta brasileira aos Mamas & Papas. Para isso o nome “Os Caçulas da Bossa” deveria ser mudado por conta do novo repertório, ficando assim apenas Os Caçulas, o nome que os consagraria.

Rebatizados, lançaram o primeiro single (compacto simples) com as músicas “A volta do pic nic” (autoria de Mário Faissal) e “Flor maior” (de Célio Borges Pereira), esta última, aliás, traz a curiosidade de ter sido a primeira incursão de Roberto Carlos nos famosos festivais de MPB da década de 60. O rei defendeu “Flor maior” na segunda eliminatória do II Festival da Música Popular Brasileira – TV Record, em setembro de 1966, mas, acabou não sendo classificada para a grande final. Não seria desta vez que o rei da Jovem Guarda conseguiria ficar entre as 5 finalistas do festival, fato que ocorreria somente no ano seguinte, quando defendeu “Maria, carnaval e cinzas” (de Luiz Carlos Paraná) na terceira edição do mesmo festival. Apesar de tê-la defendido nesse festival, Roberto não registrou “Flor maior” em disco. No LP oficial do festival, a música foi gravada por um grupo de nome Meninos Cantores de São Paulo e, no ano seguinte seria o lado B do primeiro disco de Os Caçulas.

Apesar de tê-los apresentado bem, o primeiro disco ainda não chegou a ser um grande sucesso, pois “A volta do pic nic” acabou entrando nas paradas de sucesso na voz de outro intérprete, o cantor Wanderley Cardoso, que também lançou a canção na mesma ocasião.

O segundo compacto do grupo chegou ao mercado em janeiro de 1968 e, trazia “A chuva que cai”, versão de Antônio Marcos para a italiana “E la pioggia che va”, original do grupo The Rokes. Essa gravação, com o acompanhamento do conjunto The Jet Black’s, chegou ao topo das paradas de sucesso em todo o Brasil.

Com a estrondosa repercussão, passaram a frequentar os mais importantes programas de TV, como: Jovem Guarda, Sílvio Santos, Chacrinha, Hebe Camargo, Mini Guarda, Almoço com as estrelas e, tornaram-se atrações constantes da TV Excelsior, principalmente dos programas dos Incríveis e “O Bom”, de Eduardo Araújo, entre outros.

Ainda em 1968 o primeiro LP, puxado pelo hit “A chuva que cai”, foi lançado pela RCA, com destaque para a música “Vai ser triste” (autoria dos irmãos Antônio Marcos e Mário Marcos), que deu sequência ao sucesso do quarteto.

A vesatilidade vocal do conjunto os possibilitou continuar com um vasto repertório em apresentações ao vivo, incluindo bossa nova, sambas, etc. Apesar de estarem vinculados à música jovem, chegaram a participar do LP coletânea I Bienal do Samba, com a música "Quem dera" (de Sidney Miller), que no festival foi defendida pelo MPB-4.

Acompanharam o colega de gravadora Antônio Marcos, que os presenteou com o sucesso de "A chuva que cai", nos vocais de alguns dos primeiros sucessos do cantor como: "Não fico mais sem teu carinho" e "Sou eu".

No final de 1968 o integrante Gilberto decidiu sair do grupo pra seguir carreira solo. Mais tarde seria lançado com o nome artístico de Gilberto Santamaria. Substituindo Gilberto, entrou Mário Marcos, irmão do cantor Antônio Marcos. Na época, Mário era atração fixa do programa Mini Guarda, exibido pela TV Bandeirantes de SP e, ostentava o título de “Príncipe da Mini Guarda” dividindo o palco do programa com o “Rei da Mini Guarda”, Ed Carlos.

Com a nova formação, Os Caçulas produziram um excepcional trabalho em seu segundo e, infelizmente, último LP. Produzido por Wilson Miranda, apesar de apresentar em sua maioria temas ultra-românticos, o disco traz uma sonoridade muito familiar ao Tropicalismo de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Contou com arranjos muito bem elaborados por maestros renomados, como Chiquinho de Moraes, Portinho, Osmar Milani e Élcio Álvares, além do genial cantor e compositor Luis Vagner com o conjunto Os Brasas, responsáveis por arranjos como o da fantástica “A moça do Karmann Guia vermelho” (autoria de Luis Vagner e Tom Gomes), marcante por seu estilo “soft-psicodélico”, também de “Aconselhar é fácil”, versão de Brancato Jr. para o clássico “Get Together”, original dos Youngbloods.

O maior êxito do referido microssulco ficou por conta de “Estrela que cai”, versão de Hamilton di Giórgio para “Good morning starshine”, tema da polêmica peça teatral Hair. Outros grandes números são “Por isso volto pra você” (autoria de Renato Jr.), com uma introdução de metais em fenomenal arranjo do maestro Portinho e vocal impecável, “Século XX” (de Totó), um tema bem interessante de protesto contra a guerra. Conste que canção pop de protesto era pouco comum naquela época, algo registrado pelos Caçulas não só em "Século XX", mas também em seu maior hit "A chuva que cai". E, finalmente o estouro “Pra você”, que também marcou o inesquecível álbum. Uma ótima versão assinada por Wilson Miranda para a original “Over you”, que rendeu ao grupo um dos mais cobiçados troféus da época, o Chico Viola. Esta gravação até hoje é super cultuada pelos amantes do movimento Samba Rock.

Quando gravavam o samba rock “Pra ver o mundo cantar” (de Cláudio Fontana e Antônio Marcos), foram ouvidos por Gilberto Gil nos estúdios da RCA. Gil se apaixonou pela canção e pediu pra acompanhá-los nos vocais da gravação. Por questões contratuais, a gravadora não pôde dar os créditos ao baiano por sua especialíssima participação na referida canção, que acabou saindo apenas em compacto.

Participaram do V Festival da Música Popular Brasileira – TV Record defendendo primorosamente a canção “Catendê” (autoria de Jocafi, Onias Camardelli e Ildázio Tavares). Com “Catendê”, Os Caçulas chegariam entre as finalistas, fato que acabou não ocorrendo por que a música já havia sido apresentada na TV Jornal do Commercio, de Recife, perdendo então o ineditismo proposto pelo festival. 

Apesar do crescente sucesso na época, Os Caçulas encerrariam a curta carreira na virada de 1969 pra 70, quando lançaram uma faixa para o LP coletânea “Disparo 70”. O título dessa última gravação por eles registrada era “Não vou deixar o meu canto morrer”. Ironia do destino ou não, esse foi o "canto do cisne", marcando a saída de Mário Marcos do grupo. Ainda em trio tentaram tocar o barco, mas na sequência se dissolveriam com a saída de Vera.

Após a separação, Yara chegou a ensaiar uma carreira solo, lançando um compacto pela RCA com as músicas “Bobby” (de Antônio Carlos e Jocafi) e “Enamorada” (de Pepe Ávila), porém o disco não aconteceu. Mário Marcos também gravou alguns discos solo com pouca repercussão.

Gilberto Santamaria teve vários discos lançados entre as décadas de 70 e 80, mas experimentou um tímido sucesso apenas com a disco-music “Ana”, de 1978. Ao lado de Mário Lúcio Freitas, fundou o estúdio Marshmallow em São Paulo, onde foram gravados alguns temas de novelas. Em 1984 interpretou a música tema de abertura do remake da novela Jerônimo, exibida pelo SBT. Participou do lendário LP "Chaves", lançado em 1989, com temas criados para as personagens da famosa série mexicana. É dele a voz que canta o tema do Senhor Madruga, além de participar de várias outras faixas do mesmo disco. Gilberto faleceu em 1990, vítima de câncer. 

O tempo se encarregou de reaproximar Os Caçulas, reencontraram-se depois de muitos anos sem se verem em um espetáculo do ator Renato Kramer, em SP. A partir daí tiveram inúmeras tentativas de retorno e sucessivas idas e vindas, inclusive com novos integrantes. Chegaram a gravar juntos (Yara, Vera e Alvinho) algumas músicas inéditas, que infelizmente nunca foram lançadas comercialmente.     

Em 2003 tiveram os dois álbuns de carreira resgatados por Luiz Calanca, da loja Baratos Afins, especializada em discos fora de catálogo, que os reeditou em versão digitalizada. Nesse mesmo ano, Yara e Vera se apresentaram na festa de 25 anos da Baratos Afins, no Sesc Pompéia - SP.
  
A mais recente apresentação de Yara, Vera e Alvinho foi em Junho de 2014, na casa Ópera SP, um show que além de relembrar os antigos sucessos, apresentou também novas páginas.

Alvinho também voltou à ativa no meio musical. Há algum tempo atua em bandas de baile e com trabalhos solo de teclado e voz. 

A caçula Yara tem sido responsável por manter vivo o nome e a história desse, que sem dúvidas é um dos mais importantes grupos vocais de sua época, carregando sempre a bandeira dos Caçulas e ajudando a rememorarmos essa linda trajetória, que foi curta, mas incrível! E seguindo a "máxima" Não vou deixar o meu canto morrer!  




Discografia

Compactos Simples:



A volta do pic nic / Flor maior - RCA Victor - 1967


   


A chuva que cai (E la pioggia che va) / A matinê - RCA Victor - 1968



  


Vai ser triste / A juventude (La juventud) - RCA Victor - 1968






Pra ver o mundo cantar / Pra você (Over you) - RCA Victor - 1969







Por isso volto pra você / Estrela que cai (Good morning starshine) - RCA Victor - 1969







Compactos Duplos:


Os Caçulas (É preciso crer nas estrelas 'Let's go to San Francisco' / A chuva que cai 'E la pioggia che va' / Vai ser triste / Não pisem nas flores 'No pisen las flores') - RCA Victor - 1968




  



4 Sucessos de Ouro - Série Recordando (Estrela que cai 'Good morning starshine' / A volta do pic nic / A chuva que cai 'E la pioggia che va' / Vai ser triste) - RCA Victor - 1982








Compacto Duplo (Coletânea)


V Festival da Música Popular Brasileira (Tu vais voltar com Antônio Marcos / Catendê com Os Caçulas / Comunicação com Vanusa / Sinal fechado com José Milton) - RCA Victor - 1969




 

LP's:


Os Caçulas - RCA Victor - 1968





Os Caçulas - RCA Victor - 1969





LP's Coletânea:


16 Explosivos Volume I (A volta do pic nic) - RCA Victor - 1967





14 Sucessos da Juventude Volume II (A chuva que cai 'E la pioggia che va') - RCA Victor - 1968





I Bienal do Samba (Quem dera) - RCA Camden - 1968





14 Sucessos da Juventude Volume III (Vai ser triste) - RCA Victor - 1968






12 Faixas Quentes (Pra você 'Over you') - RCA Victor - 1969



 


Disparo 70 (Não vou deixar o meu canto morrer) - RCA Victor - 1969






Yara 

Compacto Simples: 


Bobby / Enamorada - RCA Victor - 1970
 





Álbum de Recordações



Os Caçulas da Bossa em 1963, primeira formação. Da esquerda pra direita: Yara, Dalva, Alvinho, Gilberto, Maria Malvina e Vera













No Programa Júlio Rosemberg - TV Tupi. Ao piano, o compositor Célio Borges Pereira apresentando sua música "Flor maior", que seria registrada pelos Caçulas em seu disco de estreia.


Novamente no Programa de Júlio Rosemberg


Assinando o contrato com a gravadora RCA no Programa de Júlio Rosemberg






















Apresentação no Programa do Chacrinha - TV Globo



Cantando no Programa de Sílvio Santos





Cantando no Programa "Almoço com as Estrelas", de Airton e Lolita Rodrigues





Mário Marcos substitui Gilberto







No palco do Programa Jovem Guarda - TV Record


Palco do Jovem Guarda. Da esquerda pra direita: Yara, Wanderléa, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Vera


Fotonovela com Eduardo Araújo - Revista Melodias









Apresentação na premiação do Troféu Chico Viola, onde foram contemplados como o melhor conjunto - 1969














Entrevista no Programa de Hebe Camargo




As Caçulas Yara e Vera






O retorno dos Caçulas: Vera, Alvinho e Yara








Com o cantor Jerry Adriani


Vera e Yara com o amigo Deny (da dupla Deny e Dino), nos estúdios da Rádio Tupi AM, SP.


Yara com as amigas e cantoras Waldirene e Kátia Cilene - 2011


Vera e Yara - 2011




Show no Ópera SP - 2014










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