Trio Ternura

 
Grupo vocal formado pelos irmãos Jurema Lourenço da Silva (07/11/1946), Robson Lourenço da Silva (24/08/1951 – 25/12/2011) e Jussara Lourenço da Silva (17/05/1953). Nascidos no Rio de Janeiro, cresceram no suburbano bairro de Realengo, na rua Professor Oliveira Viana. Filhos de Umberto Silva e Erondina, iniciaram a trajetória artística ainda muito jovens, incentivados pelo pai. Apesar de ser militar, Umberto era muito ligado a música e gostava de compor. Ele é autor do bolero Ninguém é de ninguém, grande sucesso na voz de Cauby Peixoto, da marcha-carnavalesca Até quarta-feira, lançada por Marcos Moran, A noite e a despedida, sucesso com Ângela Maria, e de várias outras.

O grupo começou cantando em festinhas familiares, mas ainda sem nome definido, foi então que a amiga Lílian Maria, filha do compositor Almeida Rego, sugeriu que fossem batizados de Trio Ternura.

Foram muito influenciados pelo Trio Esperança, outro grupo vocal de irmãos com a mesma formação e que fazia enorme sucesso na época cantando temas pop infantis, como: A festa do Bolinha, O passo do elefantinho, Gasparzinho, A tartaruga entre outros. 

Chegaram ao disco pelas mãos do produtor Nilo Sérgio, que os lançou pela gravadora Musidisc, onde estrearam em 1966 com a música A raposa, seguindo os passos do Trio Esperança.

O comunicador Haroldo de Andrade, amigo pessoal do pai Umberto, foi o responsável por lançar o Trio Ternura na mídia. Assim que assistiu a uma apresentação deles, os levou para a TV Globo, onde cantaram no programa Tevefone e, em seguida, foram entrevistados por ele em seu programa Os Maiorais da Globo.

Em 1967 já demonstravam um flerte com a soul music na gravação de Lindo (versão de Groovin, do grupo The Young Rascals). E no fim desse mesmo ano estouraram com a música Volta meu amor (versão de Edson Mello para o folk Changes, de Phil Ochs). 

Ao perceberem o talento do grupo, começaram os convites para participar de gravações de estúdio com outros artistas no apoio de backing vocal. Acompanharam, por exemplo, o cantor Cyro Aguiar na música Suck' um up, em 1967, e a cantora Elizabeth na gravação de Eu queria ser um anjo, em 1968.

Lançaram em 1968 Nem um talvez, autoria do pai Umberto Silva em parceria com Theresinha Curtis. Com Robson de solista, a música contou com um arranjo diferente que misturava samba com balada e poderia até ser considerada uma espécie de mãe do pagode, gênero que assolaria o Brasil décadas mais tarde. Rapidamente se tornou o maior sucesso da carreira do trio e abriu as portas para gravarem o 1º LP. Foi aí que despertaram a atenção de Roberto Carlos. O rei se encantou com a interpretação de Nem um talvez e convidou o trio para participar do seu programa Jovem Guarda. 

O 1º álbum, intitulado Trio Ternura, além de Nem um talvez, teve outra faixa que se destacou: Lá, lá, lá, versão da música vencedora do Festival Eurovisão da Canção daquele ano na interpretação da espanhola Massiel.   

O prestígio que alcançaram com o sucesso de Nem um talvez rendeu o convite para ingressarem na gravadora CBS. O primeiro compacto por lá veio em 1969 com a música Não brinque com o amor, uma composição de Umberto Silva e Lúcia, que seguia o mesmo estilo de Nem um talvez e entrou para a famosa coletânea As 14 Mais.

Em 1970 vieram mais 2 compactos simples pela nova gravadora: Eu sou de você, criação do Queijinho de Minas, Martinha, e Não vou brigar com você, versão de Rossini Pinto para Pretty shade of blue, do grupo The Shevelles. O compacto Não vou brigar com você, que tinha em seu verso a gravação Se eu tivesse o poder de Deus, de Robson e Ernesto Escudeiro, foi produzido por um ainda anônimo Raul Seixas, e garantiu o destaque para Não vou brigar com você entrar novamente na coletânea As 14 Mais daquele ano.

Ainda em 1970 foram convidados por Antônio Adolfo e Tibério Gaspar para acompanharem o cantor Toni Tornado no 5º F.I.C. (Festival Internacional da Canção) defendendo a composição deles, o soul BR-3.

Jussara e Jurema recordam que antes de subirem ao palco do Festival Internacional da Canção, o irmão Robson combinou com elas um mise en scène que seria o seguinte: em determinado momento da apresentação - o chamado intermezzo (pequena transição entre 2 atos) - o trio em sincronia deveria inclinar a cabeça para baixo e virar o corpo para a esquerda para depois ir voltando em câmera lenta exatamente no momento em que lançariam o vocal arrebatador final. Embora já tivessem ensaiado com Toni Tornado, na hora em que o trio abaixou a cabeça para fazer essa performance, Toni também improvisou em sua apresentação e começou a dar piruetas no palco ao som dos metais da orquestra, e culminou abrindo os braços gritando: "Deus, meu Deus...", enquanto o trio eternizava aquele momento em um vocal apoteótico, levando ao delírio o público do Ginásio do Maracanazinho, no Rio de Janeiro.      

Com a apresentação de BR-3, o Trio Ternura definitivamente alcançou o auge do sucesso. Venceram as fases nacional e internacional do festival. Chegaram a empatar com O amor é o meu país, de Ivan Lins, porém Elis Regina, que presidia o júri naquela edição do festival, desempatou votando em BR-3. 

Finalmente inseridos na soul music e influenciados, principalmente, pelo grupo norte-americano The Jackson 5, o trio parecia ter encontrado seu caminho dentro do gênero que ganhava força no mundo todo naquele início dos anos 1970. 

Foi nesse momento que a CBS resolveu investir em um LP. Lançado em 1971, o álbum Trio Ternura teve direção artística de Raul Seixas e trazia uma mescla de soul com pitadas de psicodelia, além de algumas faixas que remetiam ao romantismo jovem-guardista. O disco contou com composições de gente que no futuro seria muito conhecida no meio artístico, como Hyldon, Dalto e o próprio Raul Seixas, além da dupla Jorge Amiden e Sérgio Hinds, do banda de rock progressivo O Terço, e dos amigos Antônio Adolfo e Tibério Gaspar. Apesar de bem produzido e com um repertório interessante, o tímido sucesso ficou apenas por conta da faixa de abertura do álbum, Sol quarenta graus, de Átila e Sérgio Augusto, e de Por isso eu digo: Brasil eu fico, de Fábio e Paulo Imperial, uma versão soul music do slogan pró-militar: Brasil, ame-o ou deixe-o.       

Ainda em 1971, participaram novamente do Festival Internacional da Canção e mais uma vez venceram em todas as fases defendendo a valsa Kyriê, de Paulinho Soares e Marcelo Silva. Kyriê significa prece em latim e foi a música lançada no compacto de estreia do trio pela nova gravadora, a Polydor.  

O onipresente pai Umberto, responsável por direcionar toda a carreira do grupo, incluindo a escolha de repertório etc., foi quem os aconselhou em 1973 a gravar A gira, música de inspiração umbanda que ele compôs em parceria com Beto Scala, irmão do trio que também seguiu a carreira de cantor com relativo sucesso, estourando em 1975 com a música Tem que ser agora. 

A princípio não gostaram muito da ideia de gravar aquela música que destoava do gênero que vinham gravando até então, mas o faro do Sr. Umberto mais uma vez estava certo, A gira virou um grande sucesso e foi redescoberta anos mais tarde, chegando a ser sampleada por DJs europeus e se tornando uma das gravações mais cultuadas do trio. 

Nas diversas apresentações que faziam pelo Brasil, a parte mais animada do show era muitas vezes somada a mais duas vozes no palco: de seus irmãos Léo e Zé Roberto. Com eles, o grupo fazia números de soul music eletrizantes. A coisa ficou tão séria que resolveram incorporar Léo e Zé Roberto de vez na formação e viraram o Quinteto Ternura a partir de 1974.

Em disco o quinteto registrou um LP pela RCA Victor, em 1974, com destaque para a releitura de Baby, de Caetano Veloso, que foi trilha da novela Locomotivas em 1977, pela TV Globo. Depois disso, fizeram apenas mais um compacto simples em 1978, pela Continental. 

Mesmo após a formação do quinteto, voltaram a gravar algumas coisas como trio até o lançamento do derradeiro disco, em 1979, quando o grupo se desfez. Na ocasião, Robson foi convidado a fazer carreira solo e Jurema e Jussara receberam o convite para trabalhar com o renomado músico Sérgio Mendes nos Estados Unidos, mas devido a alguns contratos que tinham, não puderam aceitar.

As irmãs, que já conciliavam a carreira do grupo com gravações de estúdio acompanhando diversos cantores no vocal, intensificaram as atividades de backing vocal para grandes nomes da MPB tanto em disco quanto em shows. A partir dessa fase trabalharam com Cazuza, Elba Ramalho, Ana Carolina, Beth Carvalho, Alcione, Martinália e vários outros. 

Jussara também se dedica a sua carreira solo, embora não tenha gravado sozinha, se apresenta eventualmente e chegou a participar do reality show The Voice+ em 2022, exibido pela TV Globo.

Robson infelizmente desistiu de continuar a trajetória artística e decidiu trabalhar em outros ramos, montou uma gráfica, depois teve um restaurante, mas faleceu em dezembro de 2011, no Rio de Janeiro.

O nome Trio Ternura passou a ser usado indevidamente a partir de 2009 por um grupo musical carioca, formado por Thiago Martins, Dhum Neves e Jhama, mas o autêntico Trio Ternura sempre saberemos quem é. 

Discografia

Trio Ternura

Compactos simples

A raposa / Selado com um beijo (Sealed with a kiss) - Musidisc - 1966

Lindo (Groovin') / Música para ver você passar (Music to watch girls by) - Musidisc - 1967

Volta meu amor (Changes) / Como é lindo o Natal - Musidisc - 1967

Nem um talvez / Palavras inúteis - Musidisc - 1968

Lá lá lá / Esperando você - Musidisc - 1968

Não brinque com o amor / É hora de cantar (E ora di cantare) - CBS - 1969

Eu sou de você / Longe de você - CBS - 1970

Não vou brigar com você (Pretty shade of blue) / Se eu tivesse o poder de Deus - CBS - 1970

Por isso eu digo: Brasil eu fico / Ah! se eu pudesse - CBS - 1971

Sempre primavera / Canção sem rima - Polydor - 1972

O mensageiro (Le messager) / Razão de ser - Polydor - 1972

A Gira / Last tango in Paris - Polydor - 1973

Oxalá / A grande hora - Polydor - 1973

Filhos de Zambi / Meu caso com você - RCA Victor - 1974

De amor também se morre / Eta eta - Tapecar - 1976

   Sansão e Dalila (Samson and Delilah) / Promessas - RCA Victor - 1979

Compacto duplo

Trio Ternura (Sol quarenta graus / Sempre existe alguém / Uma sombra na estrada / Por isso eu digo: Brasil eu fico) - CBS - 1971

Compactos coletânea

Semana do Exército (Semana do Exército) - Codil - 1973

4 Sucessos Tapecar (Guerra fria) - Tapecar - 1977

 

LPs

Trio Ternura - Musidisc - 1968

Trio Ternura - CBS - 1971

LPs coletânea

As 14 mais quentes (Lindo 'Groovin' / Música para ver você passar 'Music to watch girls by' / Volta meu amor 'Changes' / Como é lindo o Natal) - Musidisc - 1967

As 14 Mais vol. 23 (Não brinque com o amor) - CBS - 1969

As 14 Mais vol. 24 (Não vou brigar com você 'Pretty shade of blue') - CBS - 1970

VI Festival Internacional da Canção (Kyriê) - Philips - 1971

A medida do sucesso (Kyriê) - Som Livre - 1971

Trilha sonora da novela Rosa dos ventos (Sempre primavera) - Sinter - 1973

Super parada Tupi (A Gira) - Polyfar/Phonogram - 1973

Sucessos de ouro nº 5 (Oxalá) - Polyfar/Phonogram - 1973

 Só samba quem tem vol. 2 (Proibiram que eu te amasse) - Tapecar - 1976

Hit parade '70 - Brasil (Eu sou de você) - CBS - 1989

Rock melodia II (Sempre primavera) - Phonogram - 1989

Quinteto Ternura

Compactos simples

Baby / Quando gosto é pra valer - RCA Victor - 1975

Baby / Come to me together - RCA Victor - 1977

Linda manhã / Simão Pedro - Continental - 1978

LP

Quinteto Ternura - RCA Victor - 1974

LPs coletânea

Trilha sonora da novela Locomotivas (Baby) - Som Livre - 1977

Trilha sonora da novela O pulo do gato (Linda manhã) - Som Livre - 1978

Sucesso fantástico Vol. 4 (Linda manhã) - Continental - 1978

 




  Álbum de recordações

Início de carreira

Com Roberto Carlos

Com Toni Tornado e Antônio Adolfo, na época de BR-3 - 1970

Com Toni Tornado defendendo BR-3 no Festival Internacional da Canção - 1970

Capa da Revista Amiga - 1970

Vitória no 6º F.I.C com Kyriê - 1971

Defendendo a valsa Kyriê no festival - 1971 

Apresentação no programa de Sílvio Santos

Jurema e Jussara e ao meio o irmão Beto Scala, cantor e compositor

Quinteto Ternura: Jussara, Léo, Zé Roberto, Robson e Jurema - 1978

Outra formação do Trio: Jussara, Léo e Jurema

Jurema e Jussara fazendo backing vocal

As irmãs fazendo vocal para a cantora Ana Carolina

Jurema e Jussara com Sérgio Mendes

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