terça-feira, 11 de junho de 2013

Maritza Fabiani



Nasceu Maritza Maciel Teixeira em 17 de janeiro de 1950, na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. Segunda filha do militar da marinha mercante, Hermes e da atriz, bailarina e produtora de TV, Zélia. Gaúcha de nascimento, mas carioca de coração, com poucos dias de nascida sua família mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou parte da infância. Por volta dos dois anos e meio de idade teve paralisia infantil e aos quatro recomeçou a andar de muletas, que usou até completar doze anos. Foi uma fase complicada, pois queria brincar e correr como as outras crianças, mas não conseguia participar de todas as brincadeiras e vivia com os joelhos machucados por cair várias vezes. Além disso, se recorda que a vida de estudante no Rio de Janeiro não foi nada fácil, os colegas sentiam ciúmes por vê-la sendo tratada com carinho especial pelos professores e por isso sofreu muita discriminação.

Mesmo com as dificuldades, a menina Maritza já sabia que queria ser artista e começou a demonstrar  seu interesse pela música brincando de tocar violão e imitando a cantora carioca Lana Bittencourt, cantando o seu hit Little darling. Logo depois, outra cantora também se tornaria um de seus primeiros ídolos, a paulistana Celly Campello, considerada a primeira estrela do rock no Brasil. 

As coisas começaram a melhorar quando, aos dez anos de idade, se mudou para Curitiba, no Paraná, onde começou a trilhar os primeiros passos da carreira artística. Sem que a família soubesse, decidiu participar do programa infantil Tia Rosinha, na TV Paranaense, canal 12. Sua mãe atuava como produtora nesta emissora e usava o pseudônimo Patrícia Fabiani. Por isso, na hora de escolher um nome artístico para se apresentar em público, Maritza escolheu incluir Fabiani, em homenagem à mãe. O sucesso foi imediato, logo na primeira apresentação foi premiada com um par de sapatos. A partir daí não parou mais e ganhou espaço na TV Paranaense, fazendo mímicas nos programas Tia Rosinha e Vovô Morais. Logo depois, passou a apresentar seu próprio programa, o Petit Show, produzido por Clemente Chen, onde cantava, atuava e fazia mímicas. Aliás, as mímicas eram muito comuns na época e se tornaram marca registrada no início de sua trajetória, suas preferidas eram as de Marilyn Monroe, Ella Fitzgerald, Brenda Lee, Petula Clark e Rita Pavone. Para interpretá-las era necessário muita aptidão para encenação, algo que a jovem Maritza tirava de letra.

Na década de 1960, a juventude mundial ganhou força com o rock, e aquela música feita de jovens para jovens não só foi responsável pela mudança de comportamento daquela geração como transformou completamente o mercado fonográfico. Bem longe da era globalizada, num país de dimensão continental como o Brasil, para um cantor ganhar projeção nacional, precisava estar no eixo Rio-São Paulo - que era onde se concentrava os maiores veículos de comunicação. Nos demais estados, a repercussão era apenas local. Apesar disso, em meio ao furacão da música jovem que varria o mundo, surgiu uma infinidade de artistas fazendo esse tipo de música em todo o Brasil. No cenário curitibano, alguns nomes de destaque lançaram discos pelo selo independente Astor, entre eles: Paulo Hilário, Hilda Cristine, Os Metralhas, além do cantor e comunicador Dirceu Graeser, que comandou programas de rádio e TV locais, como: Favoritas da Juventude (Rádio Tingui) e Ponto 6 (TV Paranaense) - do qual Maritza também participou.  


Embora já fosse um nome de cartaz em Curitiba, foi voltando para o Rio de Janeiro que as portas se abriram definitivamente. Sempre apoiada pela família para seguir a carreira profissional, ganhou de presente do pai a gravação do primeiro disco. Em 1964, Sr. Hermes contratou alguns músicos de estúdio e bancou o registro de um single nos estúdios da gravadora Continental. Mesmo não tendo gostado do resultado da gravação, Maritza foi obrigada a se conformar com o lançamento no mercado de um disco que preferia não ter feito. No lado A, ouvia-se Ola-la, versão de Paulo Rogério para Oo la la, de Jimmy Byron, lançada originalmente no Brasil em 1960, pela cantora Dircinha Costa, e no outro lado, a clássica rumba cubana de Ernesto Lecuona, Para Vigo me voy, que se transformou no twist Para Vigo eu vou, em versão assinada pela mãe, Patrícia Fabiani. A originalidade não foi o suficiente para garantir a repercussão do single de estreia, o sucesso só aconteceria a partir do disco seguinte.   

A grande chance surgiu após se apresentar no programa Hoje é dia de rock, de Jair de Taumaturgo, na Rádio Mayrink Veiga, fazendo mímica da cantora italiana Rita Pavone com a música Datemi un martello. De cara, chamou a atenção do produtor artístico Carlos Imperial. Pouco depois, quando a própria Rita Pavone veio ao Brasil, Imperial organizou um show em frente à TV Rio, em Copacabana, para agitar a recepção do furacão italiano na emissora. No palco desse evento, Maritza se apresentou ao lado de muitos artistas, como: Erasmo Carlos, Golden Boys, Trio Esperança, Cleide Alves, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso e Selmita. 

O absoluto sucesso de Rita lhe garantiu covers em toda parte do mundo, que imitavam desde o jeito de cantar até seus trajes, repletos de terninhos e gravata. No Brasil, sua principal representante foi a carioca Denise Barreto, que assim como Maritza, chamava a atenção por se apresentar de terno e gravata, algo incomum para garotas que viviam uma época ainda mais machista que os dias de hoje. Elas foram as pioneiras, nenhuma cantora brasileira se atreveu a se apresentar com modelitos masculinos antes delas. Foi um período em que os jovens queriam se libertar de padrões estabelecidos pela sociedade, mas ainda era considerado tabu uma moça se vestir de terno ou um rapaz usar roupas de cor rosa, vermelha ou com estampas florais. Provando que muita gente torcia o nariz para seu estilo, em uma matéria de revista foi publicado que "apesar de se vestir de terno e gravata, Maritza recusava o rótulo de durona".  

Apesar da influência de Rita, Maritza buscava inspiração nos terninhos dos Beatles, sem que isso a fizesse perder sua feminilidade no palco, o que deixava o público ainda mais instigado pela personalidade marcante daquela garota que nunca revelava sua idade nas entrevistas que dava, pois se achava muito nova. Declarou à uma revista da época que o fato de fazer mímicas de Rita Pavone, não queria dizer que era sua cover. Isso deu margem para a mídia criar uma indisposição entre ela e Denise Barreto, chegando a ser publicada uma nota na revista Intervalo, em maio de 1967, dizendo que as duas teriam se estapeado nos bastidores da TV Excelsior, coisa que nunca aconteceu. Alguns jornais e revistas da época também noticiaram denúncias feitas pelo fã-clube de Denise revelando um boicote encabeçado por Glauco Pereira, empresário de Maritza na ocasião. Dizia-se que Glauco teve o convite para empresariar Denise recusado e, por isso, passou a conduzir uma campanha para prejudicar a carreira dela. Verdade ou mentira, o fato é que anos mais tarde elas descobririam uma possível explicação para essa rivalidade alimentada pela mídia. Em certa ocasião, Maritza foi muito elogiada pela cantora Marlene, que inclusive a comparou consigo mesma, por sua desenvoltura e performance no palco. Com o elogio da cantora que chegou a ser coroada rainha do rádio em 1950, Maritza caiu nas graças de todo o seu gigantesco fã-clube. Já Denise estava sempre próxima do grupo de artistas amigos da cantora Emilinha Borba. Marlene e Emilinha entraram para a história como protagonistas da rivalidade mais acirrada de todos os tempos, a ponto dos fãs se agredirem nos auditórios da Rádio Nacional na década de 1950. Como Maritza era da turma de Marlene e Denise da turma de Emilinha, possivelmente quiseram criar essa rivalidade entre as duas, que jamais existiu, pois ambas são amigas até hoje.

Assim que conheceu a jovem Maritza, Carlos Imperial tratou logo de apresentá-la a João Araújo, então diretor da gravadora Philips. Antes de assinar contrato, ao ser questionada por João se ela cantava, a resposta foi assertiva: "Canto e MUITO BEM!". Como a companhia estava à procura de novos talentos para compor seu cast de música jovem, rapidamente criou a Operação Trevo (plano de divulgação / estratégia de marketing). Em 13/06/1966, a Philips lançou simultaneamente Maritza Fabiani, Ronnie Von, The Brazilian Bitles e Cláudio Faissal com direito a cocktail na Maison de France, no Rio de Janeiro, e presença de toda a imprensa. 

A estreia foi com Não me deixe só, versão de Paulo César Barros, seu então cunhado e baixista do grupo Renato e Seus Blue Caps, para o sucesso I only want to be with you, da britânica Dusty Springfield. Em pouco tempo, a música estourou nas paradas e, consequentemente foi o passaporte para chover convites de apresentação nos principais programas de TV da época: Jovem Guarda, O Pequeno Mundo de Ronnie Von, Festa do Bolinha, Discoteca do Chacrinha e, logo se tornou presença constante em musicais da TV Tupi carioca, como Aérton Perlingeiro Show ou Programa Bibi Ferreira, chegando a ser contratada da emissora.


Recebeu o convite para uma pequena participação no filme Rio, Verão e Amor. A comédia romântica produzida por Watson Macedo, que trazia no enredo a polêmica juventude do Iê Iê Iê (como a música jovem era conhecida no Brasil) x juventude da Bossa Nova, já tinha no elenco alguns nomes do cenário pop carioca, como: Renato e Seus Blue Caps, The Brazilian Bitles e Lílian Knapp. Mas, Maritza recusou o convite por não concordar em aparecer cantando apenas um pequeno trecho de sua música. Uma tremenda pena, pois se tivesse aceito, hoje teríamos acesso ao menos à essa imagem, já que nada se encontra de material em vídeo das suas apresentações na época.   

A gravadora CBS (Columbia Broadcasting System), sediada nos Estados Unidos, era a fábrica de sucessos do Iê Iê Iê. Além de ter em seu elenco nomes de peso, como: Roberto Carlos, Wanderléa, Renato e Seus Blue Caps, Jerry Adriani e outros, desbancava as demais gravadoras pelo seu forte esquema de distribuição e divulgação em todo o país. Todas as grandes fábricas de discos, mesmo as internacionais, tinham seus núcleos do Iê Iê Iê, e seguindo essa tendência, a Philips não ficou de fora. Surgida inicialmente como uma companhia de eletrônicos na Holanda, a marca virou gravadora em 1950 e passou a lançar artistas da França, Alemanha e Holanda. Aqui, no Brasil, começou suas atividades em 1959 e logo se dedicaria a apresentar quase que exclusivamente a moderna música popular brasileira. Logo no início dos anos 1960 adquiriu todo o cast do selo Elenco, repleto de cantores e grupos da Bossa Nova. Embora a música jovem ou rock parecesse não agradar muito a direção artística da Philips, a partir de 1966 com a explosão da Jovem Guarda, também resolveu investir nesse nicho de mercado. A constelação de estrelas da MPB contratada, formada por Elis Regina, Chico Buarque, Jair Rodrigues, Jorge Ben, Nara Leão e outros, continuou a ter seus discos lançados pela Philips, mas a turma do Iê Iê Iê teve os trabalhos registrados pelo selo Polydor.

Foi quando, para concorrer com a famosa coletânea periódica As 14 Mais, da CBS, a Polydor apostou em seu elenco de música jovem, lançando entre 1966 e 67 Os Novos Reis do Iê Iê Iê (nome claramente inspirado no filme Os Reis do Iê Iê Iê, dos Beatles), uma série de LP's em 4 volumes, que reuniu alguns nomes como: Maritza Fabiani, Ronnie Von, The Brazilian Bitles, Márcio Greyck, Sandra, Roberto Rei, Mugstones, Fernando Pereira, João Luíz, Os Santos, Mamães e Papais (cover de The Mamas & The Papas), Thereza Kury e vários outros. 

Em 1966, a Campanha Nacional da Criança, movimento popular que ajudava crianças carentes no Brasil, reuniu alguns artistas do Iê Iê Iê carioca para lançar um LP com vendagem revertida para a campanha. A coletânea contou com Jerry Adriani, Golden Boys, Trio Esperança, The Brazilian Bitles, The Fevers, Rossini Pinto, Sérgio Murilo, The Sunshines e outros. Maritza participou com a faixa 15 anos, composta por João Luíz. O lançamento do disco foi no dia das crianças, quando todo o elenco se apresentou no programa de José Messias, na TV Rio.

A concorrência entre astros pop era acirrada. O programa Jovem Guarda, da TV Record, já era líder de audiência nas tardes de domingo, quando a emissora contratou Ronnie Von para apresentar nas tardes de sábado O pequeno mundo de Ronnie Von. Normalmente os artistas que se apresentavam no dominical comandado por Roberto Carlos não iam ao programa de Ronnie Von e vice-versa. Não que isso fosse uma regra, mas a direção da própria emissora acabava criando essa rixa. Como a nata do movimento musical disputava espaço no palco do Jovem Guarda, ao Pequeno mundo de Ronnie Von restava um elenco mais alternativo do cenário pop, como o grupo hippie De Kalafe & sua turma e o pessoal da Tropicália: Caetano Veloso, Gal Costa e até o grupo Os Mutantes com Rita Lee, que nasceu dentro do programa. Ronnie e Maritza tinham o mesmo empresário, Glauco Pereira, que aliás, nutria inimizade por Marcos Lázaro, empresário de Roberto Carlos, Elis Regina e de todas as estrelas da TV Record. Na ocasião, Glauco sugeriu que Maritza passasse a participar do programa de Ronnie com frequência, a fim de criar um vínculo, como o de Roberto Carlos com Wanderléa, mas ao perceber que essa tendência não seria saudável para sua carreira, Maritza não aceitou. Assim, chegou a aparecer bastante em O pequeno mundo, mas eventualmente também no Jovem Guarda, inclusive algumas vezes os integrantes de Renato e Seus Blue Caps, que eram atração constante do programa, chegaram a sugerir à produção: "Querem o grupo se apresentando no Jovem Guarda? Então vão ter que levar Maritza Fabiani também".            

Muitos hits europeus da Philips ganhavam versão em português e eram lançados no Brasil antes do original. Em 1966, a cantora norte-americana Cher, que na época fazia dupla com o marido Sonny Bono, emplacou com o sucesso My baby shot me down. A música composta por Sonny, recebeu versões em vários idiomas, na França por exemplo, foi registrada por Sheila como Bang Bang. No Brasil, Bang Bang ganhou versão de Carlos Wallace e virou lado A do segundo single de Maritza pela Philips / Polydor. Com arranjo inspirado na gravação francesa, de Sheila, Bang Bang com Maritza deu sequência ao seu sucesso e ganhou as paradas na virada de 1966 para 67. No verso do disco foi acompanhada pelos colegas do Brazilian Bitles, em Society em brasa, composta pelo baixista do conjunto, Fábio Block. 

Em 1967 gravou O telefone, de Carlos Wallace e Fernando Adour. O registro, que contou com participação do cantor Márcio Greyck, foi lançado em um compacto simples de poucas tiragens, apenas para divulgação em rádios, mas não chegou às lojas, antes disso foi cancelado e em seu lugar saiu Quero um beatle de presente, versão de Carlos Wallace para I'll try anything, outro sucesso de Dusty Springfield. Para o lado B, gravou O leilão, de José Messias e Anício Bichara, acompanhada pelo conjunto Os Canibais. Aliás, o compositor e comunicador José Messias, um dos principais divulgadores da música jovem no cenário carioca da época, tinha por Maritza um carinho especial. Era sempre ela quem vencia como melhor cantora de juventude, no concurso Favoritos da Nova Geração, promovido anualmente por ele em seu programa homônimo. Sua composição O leilão foi apresentada por Maritza, acompanhada pelos Canibais, muitas vezes em seu programa. 

Com a repercussão alcançada pelo sucesso de Quero um beatle de presente, chegou a ser publicada matéria em revista divulgando que seria lançado seu primeiro LP, intitulado No meu aniversário quero um beatle de presente, o que infelizmente nunca aconteceu. No lugar do long-play, veio um compacto duplo, contendo Quero um beatle de presenteO leilão e mais duas inéditas: 98 x 6, versão de 98.6, do cantor inglês Keith e Cartinha, composição de seu então namorado Horácio, integrante do grupo Os Canibais.

Ainda em 1967, entrou nos estúdios para registrar Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones, versão de C'era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones, sucesso do italiano Gianni Morandi. O disco não aconteceu, já que a música havia estourado no Brasil com os autores da versão em português, o conjunto Os Incríveis. Como o LP ficou só na promessa, Maritza resolveu trocar a Philips pela CBS.

Desde que emplacou o primeiro sucesso, os convites para assinar contrato com a CBS passaram a ser frequentes. Como era cunhada de Paulo César, baixista de Renato e Seus Blue Caps, seu passe na gravadora era livre. Na mesma época em que Cristina, sua irmã mais velha, começou a namorar Paulo César, sua amiga Lílian Knapp começou a namorar Renato, irmão de Paulo César. Lílian também era muito ligada a música e beatlemaníaca. Como conseguia os discos dos Beatles antes de serem lançados no Brasil, assim que conheceu Renato criou grande afinidade pelo líder dos Blue Caps, que acabaria se tornando seu padrinho artístico, a levando para um teste na CBS cantando em dupla com o amigo Leno. Renato relembra que eles, os roqueiros da zona norte, ficavam completamente encantados pelas mocinhas da zona sul. E Maritza recorda que toda a turma de Renato e Seus Blue Caps, o cantor Ed Wilson, irmão de Renato e Paulo César, Leno e Lílian eram presenças constantes em sua casa nessa época. A sala do apartamento estava sempre cheia de instrumentos musicais e amplificadores. Toda a família Maciel Teixeira acompanhava e participava com satisfação das reuniões musicais daqueles jovens.

Pouco antes de migrar para a CBS, sua amiga Elizabeth, cantora e compositora carioca, ficou de escolher uma de suas composições para entregá-la, mas nesse período, Elizabeth descobriu o compositor Nenéo, que a apresentou a música Quero ter você perto de mim. Ao ouvir a composição de Nenéo, Elizabeth pensou imediatamente que ficaria perfeita na voz de Maritza. Seguindo o conselho da amiga, Maritza decidiu gravá-la em seu disco de estreia pela nova gravadora. Com um belo arranjo de cordas, base de Renato e Seus Blue Caps, com solos magníficos do baixo de Paulo César e o toque de Lafayette no órgão, garantindo o som característico do período, Quero ter você perto de mim despontou na virada de 1968 para 69 e se tornou o maior êxito de sua carreira. De cara, foi convidada a participar do quadro Cantor (a) mascarado (a), no programa Discoteca do Chacrinha, onde o intérprete apresentava seu novo sucesso com uma máscara no rosto para que os espectadores descobrissem de quem se tratava. Enquanto Maritza mascarada cantava, o velho guerreiro gritava: "Quem é elaaa??? É Wanderléa? É Martinha? É Vanusa?...". A música agradou em cheio, tanto que o rei Roberto Carlos não deixou de chamar a atenção de Maritza quando a encontrava pelos corredores das emissoras de TV, dizendo: "Vou gravar sua música, menina!". E gravou mesmo! O hit ganhou uma releitura na voz dele em seu LP de 1969. 

Nessa época ainda era comum as fotonovelas (novelas em quadrinhos fotográficos), gênero romântico explorado pelas revistas especializadas desde a era do rádio, em que os astros do mundo artístico eram os protagonistas das histórias de amor. Maritza participou de algumas dessas produções, uma delas à propósito, pegou carona no sucesso de Quero ter você perto de mim e foi publicada com o mesmo título da música. 

Até a chegada de Maritza, as únicas cantoras do gênero na CBS eram Wanderléa, já consagrada como a principal estrela feminina do movimento e a pernambucana recém-chegada, Kátia Cilene. Isso gerou um certo ciúme por parte de alguns produtores artísticos dentro da gravadora, o que acabou prejudicando sua carreira. Fez apenas mais um single em 1969, contendo Eu tenho um segredo, criação dos irmãos Mário Marcos e Antônio Marcos, com quem viveu um passageiro romance na época e O que foi que eu fiz a você, de Luiz Ayrão. O disco poderia ter tido uma repercussão maior se fosse melhor trabalhado pela divulgação da CBS. Ao voltar de uma excursão pelo nordeste, onde divulgava o novo trabalho, Maritza foi surpreendida com a falsa notícia de que havia feito um comentário negativo envolvendo a produção da gravadora. A polêmica foi até veiculada em revistas na época, onde ela declarava publicamente o boicote que a fez ser desligada da CBS.

Nesse mesmo período fez uma versão para a música Boom Bang a Bang, defendida pela cantora britânica Lulu no Festival Eurovisão da Canção de 1969, que foi gravada por Selmita com o título de Meu coração.

Após as frustrações com as gravadoras, registrou apenas mais um disco, por insistência do cunhado Paulo César Barros, que produziu e assinou as duas faixas. Em 1970 saiu pelo selo CID o compacto com A vida espera por nós dois e Estou a lhe esperar. No auge dos vinte anos de idade, Maritza tentava encontrar um novo caminho para sua carreira. A estafa por estar na estrada desde muito cedo somada a desmotivação causada por algumas injustiças na trajetória a fizeram amadurecer para mudar completamente sua história. Foi aí que surgiu a ideia de cantar em dupla com sua irmã Cristina.

Adotando o nome de Kris & Cristina, a dupla foi contratada pela RCA Victor em 1972 e o primeiro disco com a música Uma rosa com amor, de Antônio Carlos e Jocafi, tema de abertura da novela homônima exibida pela TV Globo, foi um êxito retumbante.

Passaram a participar ativamente do programa musical Globo de Ouro, na TV Globo e logo foram notadas por Chico Anysio, que as escolheu para gravar o tema de abertura do seu programa Chico City em 1973. 

Kris & Cristina sacudiram o Brasil de ponta a ponta com Isso é muito bom, de Chico Anysio e Arnaud Rodrigues, a música foi tema do humorístico da TV Globo por anos e contava com a participação da própria dupla cantando na abertura. Participaram ainda do LP Chico City com as músicas Isso é muito bom, É domingo, é domingo e Dói que dói. Foram precursoras de um estilo que mais tarde seria explorado por cantoras como Elba Ramalho, por exemplo. Por essa época, Maritza conheceu o compositor e publicitário Heitor Valente, com quem se casaria em 1974 e teria seus três filhos: Eduardo, Carlos Heitor e Marcella.

A aproximação com muitos nomes da tradicional MPB fez com que a dupla formasse um repertório eclético, transitando pelos mais diversos gêneros musicais em suas apresentações. Mesmo depois do casamento, Maritza não deixou a carreira de lado e o marido Heitor se tornou seu principal incentivador. Era ele quem buscava circuitos culturais para que a dupla se apresentasse.

Em 1975 registraram o xote Chá cutuba, de Humberto Teixeira, regravada pelo rei do baião Luiz Gonzaga dois anos depois e Como tem Zé na Paraíba, releitura de um sucesso de Jackson do Pandeiro de 1962. Participaram também da coletânea carnavalesca Convocação Geral em 1977, com a música Bota a boca.

Maritza e Cristina juntaram-se aos dois irmãos mais novos Marcus e Prêntice e formaram o grupo vocal Eles & Elas em 1978, que infelizmente lançou apenas dois compactos. O grupo foi desfeito em seguida, pois Prêntice já alçava outros voos, investindo em sua carreira solo e também de compositor, se consagrando na década seguinte com a música Não diga nada, tema da novela Ti Ti Ti, exibida em 1985 pela TV Globo, e como compositor de diversos sucessos gravados por José Augusto, Xuxa, Tim Maia, Alcione, Wando, Trem da Alegria, Elymar Santos, The Fevers, Herva Doce e outros.

De volta a Curitiba, em 1981 Kris & Cristina lançaram seu derradeiro disco pelo selo paranaense Acorde, com a música Tira gosto, de Zé Renato, primo de consideração da dupla e integrante do grupo vocal Boca Livre, em parceria com Heitor Valente. A gravação contou ainda com participação especial do grupo Boca Livre nos vocais. No lado B do disco registraram Canto livre, obra-prima composta por Billy Blanco em homenagem aos cantores.

A música não foi a única paixão em comum das irmãs cantoras, Cristina e Maritza descobriram que também gostavam de psicologia. Ambas se especializaram nesse campo de estudo e se tornaram psicólogas. Maritza se recorda que mesmo grávida não descuidava dos estudos, até se formar pela PUC-PR.   

Fizeram participação especial no LP Sai da frente Brasil, de Aldir Blanc e Maurício Tapajós, na música A minha casa é sua (Pra juventude de Angola), lançado pelo selo independente Saci em 1984. E participaram do Festival dos Festivais no ano seguinte, fazendo vocal junto com a cantora Cláudia Telles para o irmão Prêntice na música Violão e voz. Diversificando as atividades, nessa época Maritza criou a confecção Primeira Linha, distribuindo a produção para o Rio de Janeiro e São Paulo.

Em 1990, ainda em Curitiba, inaugurou com o sobrinho Paulinho César, filho de Cristina e Paulo César Barros, o estúdio DataSom, onde produziu inúmeros jingles publicitários políticos, inclusive para a campanha presidencial de Fernando Collor de Mello.

Hoje, morando no Rio de Janeiro e viúva de Heitor, Maritza atua como psicóloga em seu consultório e se apresenta eventualmente relembrando seus antigos sucessos em alguns eventos, além de acompanhar a trajetória de sua filha, a atriz Marcella Valente.



Discografia
Maritza Fabiani



Compactos simples

Ola-la / Para Vigo eu vou (Para Vigo me voy) – Continental – 1964





Não me deixe só (I only want to be with you) / Procuro um anjo – Philips – 1966




Bang Bang (My baby shot me down) / Society em brasa – Polydor – 1966





O telefone / O leilão – Polydor – 1967 (disco cancelado)





Quero um beatle de presente (I’ll try anything) / O leilão – Polydor – 1967





Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones (C’era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones) / Que seria de mim sem você – Polydor – 1967

Quero ter você perto de mim / Castigo – CBS – 1968





Eu tenho um segredo / O que foi que eu fiz a você – CBS – 1969





A vida espera por nós dois / Estou a lhe esperar – CID – 1970





Compacto duplo

Maritza Fabiani (98 x 6 ‘98 . 6’ / O leilão / Cartinha / Quero um beatle de presente ‘I’ll try anything’) – Polydor – 1967







LPs coletânea

Os Novos Reis do Iê Iê Iê (Não me deixe só ‘I only want to be with you’ / Procuro um anjo) – Polydor – 1966




12 brasas pra você (Quinze anos) – CNC’r – 1966 (disco promocional para a Campanha Nacional da Criança)




O sucesso pelo mundo nº 4 (Não me deixe só ‘I only want to be with you’ / Bang Bang ‘My baby shot my down’) – Philips – 1966



Os Novos Reis do Iê Iê Iê vol. 2 (Bang Bang ‘My baby shot me down’ / Society em brasa) – Polydor – 1967




Os Novos Reis do Iê Iê Iê vol. 3 (Quero um beatle de presente ‘I’ll try anything’ / O leilão) – Polydor – 1967




Os Novos Reis do Iê Iê Iê vol. 4 (Cartinha) – Polydor – 1967




Kris & Cristina


Compactos simples

 Uma rosa com amor / Léro léro - RCA Victor - 1972




Isso é muito bom / É domingo, é domingo – RCA Victor – 1973






Chá cutuba / Como tem Zé na Paraíba – RCA Victor – 1975





Tira gosto / Canto livre - Acorde - 1981






Compacto coletânea


4 sucessos originais de novelas (Uma rosa com amor) - Som Livre - 1973





LPs coletânea


Trilha Sonora da Novela Uma rosa com amor (Uma rosa com amor) – Som Livre – 1972





O Som Livre do Sucesso (Uma rosa com amor) - Som Livre - 1973




Trilha Sonora do Programa Chico City (Isso é muito bom / Dói que dói / É domingo, é domingo) – Som Livre – 1973





A música dos seus programas favoritos de TV (Isso é muito bom) - Som Livre - 1973






Carnaval 77 - Convocação Geral vol. 1 (Bota a boca) – Som Livre – 1977





VIII Concurso de Músicas para o Carnaval 1978 (Nega, nêga) - RCA Victor - 1978





LP Sai da frente Brasil de Aldir Blanc e Maurício Tapajós, com participação de Kris & Cristina na música "A minha casa é sua (Pra juventude de Angola)", lançado pelo selo independente Saci em 1984



Eles & Elas


Compactos simples


Passaraio / Fantasias - Tapecar - 1978





Nossos dias / Recomeçar - Tapecar - 1979






Álbum de Recordações


Bebê Maritza

Fazendo pose na infância

Com a mãe Dona Zélia e a irmã Cristina

Em nova pose com a mãe e a irmã


Com os irmãos Cristina e Marcus

Com o irmão Prêntice na infância

Apresentação em Programa Infantil na TV Paranaense

Início de carreira


 
Com Renato e Seus Blue Caps apresentando-se no Programa Brotos no 13, de Carlos Imperial
Com Os Canibais apresentando-se no Programa de José Messias

Recebendo o Troféu 'Favoritos da Nova Geração' no Programa de José Messias, entre outros agraciados como Kátia Cilene, Ataúlfo Alves, Marlene Cavalcanti, José Roberto, José Ricardo, Roberto Carlos e Rosemary - Rádio Nacional RJ

No palco do Programa Jovem Guarda ao lado de Roberto Carlos, Robert Livi, Kátia Cilene, entre outros
No Programa de Bibi Ferreira com Meire Pavão e Sandra - TV Tupi - 1967


Da esquerda pra direita: Meire Pavão, Sandra e Maritza Fabiani - TV Tupi - 1967


Da esquerda pra direita: Márcio Greyck, Fernando Pereira, Alex, Bibi Ferreira, Meire Pavão, Sandra e Maritza Fabiani, ao fundo o conjunto The Youngsters - TV Tupi - 1967


                                                                                              






Com Antônio Marcos, Joelma e Agnaldo Rayol - Capas das Revistas do Rádio e Noturno




Com Sérgio Murilo - Capa da Revista do Rádio


Com Paulo Sérgio e Elizabeth - Capa Revista do Rádio

Com Silvinha - Matéria Revista Intervalo - 1969








No Coquetel de lançamento pela Philips (Operação Trevo), ao lado de Cláudio Faissal e Ronnie Von - 1966





Com Márcio Greyck e João Luíz









Com Agnaldo Timóteo, Roberto Carlos e Wanderléa

Acima da esquerda pra direita: Jerry Adriani, Elizabeth e João Luíz. Abaixo: Maritza Fabiani e Leno - 1969



Bang Bang

Acima da esquerda pra direita: Meire Pavão, Maritza Fabiani, Cleópatra, Elizabeth Sander, João Luíz e Denise Barreto; abaixo: Edson Wander, Marlene Cavalcanti e Márcio Greyck - 1967







Com Wanderléa, Marlene Cavalcanti e José Messias


Selmita, João Luíz e Maritza Fabiani

Com Leno em Fotonovela Revista Sétimo Céu - 1969

Fotonovela "Quero ter você perto de mim" - Revista do Rádio


Participando do quadro Cantora Mascarada no Programa Chacrinha

Selmita, João Luíz, Denise Barreto e Maritza Fabiani


Raul Seixas, Leno, Serguei, Jerry Adriani e Maritza Fabiani

A dupla Kris & Cristina





Na abertura do Programa Chico City - 1973


Os irmãos Cristina, Prêntice, Maritza e Marcus - Grupo Eles & Elas - 1978



Cristina e Maritza - 2007

2012

Com o saudoso irmão Prêntice na Rádio Nacional - RJ - 2003


Com a mãe, a escritora Zélia Maciel - 2012

Com a filha e atriz Marcella Valente - 2007


Com a amiga e cantora Denise Barreto - 2010
Com a amiga e cantora Kátia Cilene - 2009



Cantando com Kátia Cilene no Auditório da Rádio Nacional - RJ - 2008



Com a amiga e cantora Marlene Cavalcanti - 2008

Com Kátia Cilene e Denise Barreto - 2009

2009





2009


Vídeos



Nenhum comentário:

Postar um comentário